terça-feira, 9 de março de 2010

5.5.2 Romantismo, expressão da ideologia liberal




O Romantismo foi um movimento cultural que surgiu na Europa e nos Estados Unidos da América a partir da segunda metade do século XVIII. O seu nome deriva de "romance", histórias e aventuras medievais, que tiveram uma grande divulgação no final de setecentos, respondendo ao crescente interesse pelo passado gótico e a nostalgia da Idade Média. Contra a ordem e a rigidez intelectual clássica, os artistas românticos imprimiram maior importância à liberdade, imaginação, à originalidade e à expressão individual, através das quais poderiam alcançar o sublime e o genial.
O individuo arrebatado exprime-se no herói romântico que mergulha no passado e na natureza.
Defendendo o regresso à natureza a liberdade criativa e o rompimento de tabus e condicionalismos temáticos ou estéticos, os romanticos adoptaram uma postura de sintese livre e criativa de várias influências. O exotismo oriental, a natureza, o medievalismo e as qualidades humanas são temas redundantes na temática romântica.
As mudanças sociais e políticas provocadas pela derrocada do Antigo Regime e da velha ordem, as guerras frequentes, a revolução industrial e o despontar de um imperialismo industrialista terão provocado nos meios culturais e intelectuais sentimentos de inquietação perante um cenário de possibilidades abertas ao homem numa época de tantas transformações.

História


No âmbito da História e da política ressurge a exaltação do passado glorioso das nações e povos justificando as conquistas da liberdade e das nacionalidades. A Idade Média suscitou a recuperação da história antiga que adaptada ao tempo, resultou em anseios libertários, experiências políticas, ideologias novas. A liberdade tornou-se argumento de luta dos liberais por toda a Europa, reagindo primeiro contra os poderes absolutos, depois contra os imperialismos industrialistas do final do século XIX. Grécia, Bélgica, Itália, Alemanha são produtos da exaltação nacionalista e libertária dos povos europeus na época. 

Arquitectura

O Romantismo, ligado à recuperação de formas artísticas medievais, acompanhada pelo gosto pelo exótico contido nas culturas orientais, favoreceu o revivalismo e a mistura de vários estilos, como o românico, o gótico, o bizantino, o chinês ou o árabe. Foi na Inglaterra que se verificaram as primeiras manifestações da arquitectura romântica.



O inglês Horace Walpole tornou-se um dos pioneiros do revivalismo gótico com a construção do palacete Strawberry Hill, no terceiro quartel de setecentos. O neogótico teve como grande impulsionador o filósofo John Ruskin e manifestou-se em inúmeros edifícios ingleses, de entre os quais se destaca o Parlamento de Londres. O gosto oriental marcou formalmente o Pavilhão Real de Brighton, construído em ferro por John Nash.
Mais tarde, e já no continente, surgiu o neobarroco, que teve grande sucesso em França com os trabalhos de Charles Garnier (1825-98), dos quais se destaca a Ópera de Paris.
Paralelamente ao revivalismo estilístico, a arquitectura do século XIX apresentou um outro vasto campo de desenvolvimento, proporcionado pelos novos materiais de construção surgidos com a industrialização, como o ferro e o vidro. Embora a Inglaterra tenha sido pioneira na utilização do ferro para a construção de estruturas arquitectónicas, foi em França que esta tecnologia encontrou uma mais significativa expressão estética.

Artes Plásticas e Decorativas

Contrariamente à arquitectura, que conheceu o seu apogeu em Inglaterra, a pintura romântica encontrou um meio intelectual e criativo mais favorável no continente europeu, principalmente em Espanha, França e na Alemanha. Predominavam as cores fortes, a luz e os motivos naturais.
Francisco Goya (1746-1828), pintor espanhol contemporâneo de David, foi grandemente influenciado por Mengs e por Tiepolo mas também por autores do período barroco como Velázquez e Rembrandt. As suas obras mais famosas, como o quadro Três de Maio de 1808, foram realizadas entre 1810 e 1815, os anos da ocupação francesa, e caracterizam-se pelo sentido trágico dos temas, pelo colorido agressivo e uma luminosidade dramática.
O francês Eugéne Delacroix (1798-1863), marcado pela cultura romântica inglesa, pinta grandes quadros épicos como a Liberdade Guiando o Povo (1830-1831) e cenas orientalizantes, como Os massacres de Scio, para os quais a viagem que realiza a Marrocos fornece informações preciosas. A revolução francesa e as outras revoluções liberais são fonte de inspiração para pintores mas também escritores. 
Na Alemanha, a pintura romântica atinge o seu apogeu com as representações visionárias e espiritualizadas da natureza, realizadas pelos alemães Caspar David Friedrich (1774-1840) e Philipp Otto Runge (1774-1840).
Em Portugal, salientaram-se os pintores Tomás da Anunciação (1818-1879), o paisagista Cristino da Silva (1829-1877) e Francisco Augusto Metrass (1825-1861), estudante em Roma com o grupo dos Nazarenos e autor de quadros historicistas e naturalistas, de entre os quais se destaca a pintura "Só Deus".
A escultura romântica, desenvolvida em paralelo com a escultura neoclássica, não conheceu qualidade estética nem projecção idênticas à da pintura da mesma época. Protagonizada pelo francês Antoine Louis Barye (1796-1875), que transporta para a estatuária o espírito romântico do pintor Delacroix, de quem era amigo, realiza peças baseadas no estudo naturalístico e fortemente expressivo de animais selvagens, como por exemplo, a escultura O Jaguar devorando uma lebre.
No contexto português destacam-se os trabalhos de Soares dos Reis (1847-1889), como a estátua "Desterrado" e de Simões de Almeida (1844-1926), autor do grupo escultórico Génio da Liberdade, incluído no monumento do Marquês de Pombal em Lisboa.
Desaparecendo durante a segunda metade do século XIX, o romantismo inspirou alguns movimentos artísticos da centúria seguinte, como o Simbolismo e o Expressionismo.


Literatura
O Romantismo entra na Literatura portuguesa com a publicação do poema D. Branca (1826) de Almeida Garrett. O ambiente político (lutas entre liberais e absolutistas), o exílio deste, o seu temperamento, a época em que viveu, transformam o árcade que durante muito tempo se afirmou em Catão, na Lírica de João Mínimo, no Retrato de Vénus, quanto ao seu conteúdo, e nos poemas Camões e D. Branca, na linguagem, no grande romântico das Folhas Caídas e no grande pioneiro de uma linguagem coloquial, moderna, de Viagens na Minha Terra. Será, contudo, Alexandre Herculano o grande intérprete do Romantismo com a poesia de cor histórica marcadamente actual da Harpa do Crente e com o romance histórico (O Bobo, O Monge de Cister) decorrente na Idade Média, que constituirá o zénite do movimento literário.
Aliás em Portugal os autores deste período numa primeira fase são fortemente marcados pelo medievalismo e o empenhamento político como é visivel em Herculano e Garrett. Já posteriormente Camilo Castelo Branco ou Castilho são mais marcados por um ultra-romantismo de carácter pessimista, patético e trágico.

Depois da Inglaterra o Romantismo irrompe na Alemanha com a peça dramática Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto), um grito de revolta contra o imperialismo napoleónico e uma afirmação de nacionalismo e, como tal, o medievalismo, o regresso ao passado, o subjectivismo e, na sua sequência, o sentimentalismo. O subjectivismo dos filósofos alemães Kant, Fichte, Schelling e Schlegel conduz a um novo antropocentrismo. Por outro lado, o sentimentalismo afirma-se com o domínio do coração nos românticos sobre o da razão nos clássicos. Da Inglaterra vem-lhe o gosto de uma paisagem solitária, luarenta, saudosa, com as ruínas musgosas e evocadoras. As Estações de Thompson (1726-30) abrem caminho para a descrição da natureza saudosista, solitária, povoada de ruínas e cemitérios. O passado com a sua poesia, as suas tradições, serviu como reacção ao Classicismo aristocrata. É este ambiente que propicia o clima em que floresce a poesia e o romance de Walter Scott e é nele que se realiza a obra poética do insaciável aventureiro, revolucionário e sentimental Byron. Os nomes de Wordsworth, Macpherson, Coleridge e Shelley são ainda de vulto no movimento romântico na Inglaterra. Do desencontro entre as formas espartilhadas do Classicismo e a ânsia de evasão dos românticos afirma-se o sentido da liberdade na Arte e, daí, o individualismo com Victor Hugo, o «escuta-te a ti próprio». O artista deixa de ser o imitador; pondo a sua imaginação a trabalhar, cria uma sub-realidade e transmite o seu sentir e pensar. De imitador passa a criador. Albert Thibaudet considera o Romantismo como «a grande revolução literária moderna». É, também, uma atitude reactiva em favor da pequena burguesia que orienta o Contrato Social de Rousseau (1762) e, depois, Emílio (1762); e, em Julie ou La Nouvelle Héloise esboça-se o passionalismo romântico. Embora a França só a partir de 1830 se abrisse definitivamente ao Romantismo, não há dúvida de que Rousseau pode considerar-se o seu primeiro ensaio na escola. Depois temos Chateaubriand com Atala e o Génio do Cristianismo, Lamartine, Musset, Victor Hugo, que escreve o prefácio do drama Cromwell a proclamar a liberdade na arte, em guerra aberta com as normas do Classicismo. Na Alemanha, Herder, Goethe, Hegel, Schiller e Schlegel são os padrões mais sugestivos. Mas já os irmãos Grimm tinham explorado a cultura popular: Wieland, no seu Oberon, põe o maravilhoso popular no lugar da mitologia e Klopstock, em Messíada, também a rejeita. A liberdade na arte determina a criação de novas formas - o drama, o poema narrativo (Camões), o romance histórico; na poesia aparecem variadíssimas estruturas estróficas que acompanham o pensamento com maleabilidade; a linguagem, com mais poder de transmissão, enriquece com uma simbologia nova e com um vocabulário mais sugestivo e mais actual; afirma-se o gosto pelo exotismo. Ao equilíbrio do Classicismo opõe-se, agora, a ansiedade da descoberta metafísica, quer se perca no domínio horizontal das afeições humanas (Garrett), quer se dirija verticalmente na busca de Deus (Herculano, Soares de Passos, Antero de Quental). Ao Romantismo interessam os temas grandiosos. Mas, por vezes, essa ânsia de infinito debate-se dolorosamente, dramaticamente, com as suas limitações humanas, o que dá lugar ao desânimo. A mesma ânsia de liberdade artística projecta-se na busca ansiosa de um mundo melhor, um mundo onde os homens sintam o domínio da justiça e se encontrem como irmãos. Todas as circunstâncias que propiciaram a nova corrente arrastaram consigo um acentuado pendor para a insegurança, para a inquietação, para o desajustamento que os mergulha, ora num estado de melancolia, a qual, com Schopenhauer, conduz ao pessimismo niilista, ora num estado de revolta (Byron). Daí, portanto, um mundo literário cheio de paixões exaltadas, de traições, de malfeitores, de ambientes terríficos e mórbidos, ou um mundo de sonho, vivido na solidão, em contacto com uma natureza turbulenta, alvoroçada, sombria, ao pôr do sol, durante a noite, nas estações românticas (Outono e Inverno), povoada de receios, de fantasmas, de visões terríficas, em oposição à natureza resplendente dos clássicos, com ninfas e faunos. De fundo de cenário que era, no Classicismo, a natureza, nos românticos, participa, determina estados de alma.

Musica


Chopin, Wagner, Schumann, Mahler, Brahms, foram compositores muito influenciados pelos temas e ambientes literários e naturalistas dos poetas e romancistas em contraponto aos ambientes urbanos e industriais do século XIX. Marcados pela expansão do sinfonismo mas também do dramatismo musical solitário dos grandes pianistas. A ópera também se desenvolveu muito com Verdi na Itália e Wagner na Alemanha. 

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